MÚSICA, PSICOMOTRICIDADE E DESENVOLVIMENTO – POR JUNIOR CADIMA

Música, Psicomotricidade e Desenvolvimento

Junior Cadima

Primeiramente, quero agradecer o convite da Caixola Musical e dizer que é uma felicidade muito grande poder contribuir com esse texto para o blog. Quero parabenizar pelo belíssimo trabalho realizado. É muito bom ver pessoas desenvolvendo trabalhos com seriedade e que contribuem para a construção de uma educação musical mais sólida e de qualidade.

Pretendo trazer neste texto informações sobre o trabalho com a música e o desenvolvimento da psicomotricidade, pontos relevantes na minha prática pedagógica e de pesquisa.

Espero que vocês possam digerir a leitura com prazer e motivação. Bom estudo!

Muitos estudos já foram realizados sobre a importância das atividades musicais e rítmicas no processo de desenvolvimento global do sujeito e na aquisição do conhecimento. Elas contribuem de forma intuitiva e como reforço no desenvolvimento cognitivo, psicomotor, social, afetivo e emocional.

Segundo Ilari (2005), diversos estudiosos sugerem que o trabalho realizado por meio das atividades musicais é importante, porque atua diretamente no processo de desenvolvimento da audição, motricidade, inteligência e socialização. Essas atividades também ajudam no desenvolvimento da afetividade, aspecto importante no relacionamento pessoal. 

O corpo e os movimentos são essenciais para o desenvolvimento integral do ser humano. Desde o nascimento, a criança utiliza a linguagem corporal para conhecer a si mesma, relacionar-se, movimentar-se e descobrir o universo exterior que a cerca. Aos poucos muitas descobertas vão sendo realizadas e deixam marcas que se tornam aprendizados efetivos e são incorporados à formação do ser. (LEVIN, 2005)

Os estímulos recebidos são extremamente importantes para a construção da estrutura neural e do comportamento da criança. Vale ressaltar que em cada etapa do desenvolvimento motor os movimentos vão se tornando mais elaborados e influenciam na aquisição das habilidades mentais.

Segundo Muskat (2016), a música exerce uma grande influência no funcionamento cerebral. Ela age diretamente e modifica a comunicação de todas as áreas cerebrais. A motricidade também é muito exigida e o processo de internalização de um ritmo com movimentos repetitivos, por exemplo, é complexo e exige o recrutamento de diversas conexões neurofuncionais. (LOURO, 2012)

Pensando no trabalho realizado por meio da música e a sua relação no desenvolvimento motor do sujeito, é preciso entender um pouco mais sobre o que é psicomotricidade e aqui trarei duas definições:

De acordo com Alves (2012), a psicomotricidade traz possibilidades de desenvolver capacidades, utilizando do movimento e do conhecimento do corpo para atingir aquisições mais complexas, como as intelectuais.

Para Fonseca (1995), a psicomotricidade utiliza o movimento para atingir outros aspectos mais elaborados, como as habilidades mentais, emocionais, relacionadas ao meio ambiente, ao esquema corporal, e para que isto ocorra, necessita primeiramente da adequação do indivíduo e a percepção dos estímulos dos seus sentidos.

O estudo de um instrumento musical e/ou atividades musicais em grupo desenvolve habilidades motoras que estão diretamente relacionadas ao processamento da atenção, memória, raciocínio lógico e aquisição do conhecimento. (PALMER E MEYER, 2000)

Brito (2013) aponta a música como uma atividade que desperta prazer e motivação (aspectos muito importantes no processo da aprendizagem), podendo ser trabalhada de forma lúdica e divertida. Nesse sentido, ela auxilia de forma efetiva o trabalho da educação psicomotora (estimulação dos movimentos corporais e prevenção de futuros déficits), que deve ser realizada livre de regras e cobranças, proporcionando momentos de criatividade, expressão, descobertas e diversão.

De acordo com Louro (2012), o educador musical deve traçar um plano de trabalho que priorize não só os aspectos musicais, mas também a evolução do sujeito como um todo. Esses estímulos devem proporcionar experiências que ampliem de forma significativa a aquisição do conhecimento.

Como citado anteriormente, os estímulos psicomotores desempenham um importante papel no processo de desenvolvimento cognitivo e é EXTREMAMENTE IMPORTANTE oferecer um ambiente onde a criança seja estimulada a desenvolver esses aspectos.

De acordo com as pesquisas, a música quando utilizada nas brincadeiras com as crianças ou no aprendizado de um instrumento, torna-se uma ferramenta valiosa para o desenvolvimento da motricidade e de outras habilidades. Através dela a criança brinca, movimenta-se com mais frequência, relaciona-se com outras crianças, treina a atenção, a capacidade de focar, inibir um comportamento e planejar ações. Isso interfere na estrutura corporal, no comportamento motor, na socialização e na externalização dos sentimentos.

Música e psicomotricidade estão intimamente ligadas e são áreas perduráveis na educação infantil. Por meio da música a criança incorpora experiências, vivências e interage com mundo. Os movimentos corporais irão possibilitar o conhecimento do próprio corpo, das suas capacidades e serve como um instrumento de comunicação.

Quero com este texto plantar uma “semente” em cada educador, para que possam pesquisar mais sobre a rica relação entre essas áreas do saber e conscientizar sobre a importância de se desenvolver um olhar observador e crítico para o trabalho na primeira infância (0 a 6 anos). 

 

 

Junior Cadima

Psicopedagogo e Músico; Especialista em Neurociência aplicada à Educação (IBFE/Campinas); Pós-graduando em Neuropsicologia aplicada à Neurologia Infantil (Unicamp/Campinas); Pós-graduando em Psicomotricidade Educacional (IBFE/Campinas); Atua como neuropsicopedagogo utilizando a música e as atividades motoras como ferramentas de intervenção com pessoas que apresentam dificuldades e transtornos do neurodesenvolvimento.